sábado, 27 de novembro de 2010

Arquitetura e Cinema


Tanto as marcas das mãos de Carol quanto o despregar do papel de parede fazem sentido diante da fala do vizinho de Barton: “é patético que isso aconteça a um cara como você, de Nova York”. Carol é francesa mas está morando em Londres, o que a coloca na mesma situação. Fink tenta recolocar o papel e, através do mesmo gesto dela, torna evidente a sua perturbação.

As mãos saindo das paredes e tentando agarrá-la passam a impressão de que repulsão e desejo andam sempre juntos, muito além do princípio do prazer. Seria a repulsão um desejo reprimido ?

A angústia é um afeto primordial para Freud. Sua primeira teoria a respeito afirma que o processo do recalque tem o efeito de transformar a libido em angústia (Cf. FREUD, Sigmund. “Sobre os critérios para destacar da neurastenia uma síndrome particular intitulada ‘neurose de angústia”- 1895). Esta posição é modificada no trabalho de 1926, “Inibição, sintoma e angústia”, onde concebe a angústia de castração como promotora da operação de recalque. No Unheimliche, que está no meio do caminho – 1919 – o argumento utilizado é apenas que, com a operação do recalque, o afeto da moção pulsional surge transformado, e tem a tonalidade da angústia, visando explicar o motivo pelo qual fatos que não seriam em si estranhos, quando se associam ao retorno do recalcado, vêm acompanhados de afetos negativos: angústia, medo, horror. Isso não desmente a segunda teoria freudiana. Pelo contrário, até a antecipa: se a angústia de castração é que provoca o recalque, certamente o recalcado que retorna (e que justifica a estranheza das vivências) virá acompanhado de lembranças de perda, de ausência, de falta, enfim, de tudo o que é circunscrito como castração.
Obs.: apenas os grifos são nossos, a citação foi tirada integralmente de PORTUGAL (2008,p.79). 

A consumação do desejo de Barton pela mulher do escritor é mostrada pelo diretor através da tubulação e instalações hidráulicas do apartamento. Seguindo esse raciocínio, Carol estaria inundada de desejo, mas vulnerável a ele. A vulnerabilidade seria expressa pelos pés que tocam o chão, mesmo que apenas através da água que o molha ?

O corredor demonstraria, então, a ambiguidade do desejo pela solidão, já que a tuba conduz o expectador até ele pela transição original elaborada pelo diretor.

Uma das cenas mais longas de Repulsion mostra o corredor e depois Carol indo até o banheiro, onde irá eventualmente encontrar o namorado da irmã – seu objeto de desejo e repulsão ?

O corredor, entendido aqui como manifestação arquitetônica da solidão no filme, grita em certo momento: “Show yourself !” e então aparecem os “agressores”, invasores do espaço interior de cada um. “Ouvrez cette porte!” 

O corredor, ao som da máquina de escrever, faz-me lembrar do poema de um amigo, que datilografou:
“Escrevo seu nome mil e uma vezes
Para sentir saudades
E ter algo seu como lembrança.
É noite e, lá fora, somente a solidão.”

No elevador, Barton pergunta se o ascensorista já leu a Bíblia. Sua resposta é curiosíssima: “I think so. Anyway, I’ve heard about it.” Essa parece ser a posição da maioria em relação à sua estrutura psíquica, à qual só dão atenção quando começa a ruir.

As fendas que se abrem pelos caminhos de Carol denotam, fisicamente, seu estado psíquico. São recalques estruturais sérios. Já Barton tem recalques leves, manifestados por um papel de parede que insiste em se soltar.

Muitas vezes essa condição também é ignorada pelo “outro”, que não assume seu papel "lacaniano": a irmã que acha que Carol está bem (mas viaja para um lugar famoso por seu recalque estrutural !!!) e Barton, ao não perceber que o vizinho é um psicopata.

A ambigüidade aparece também em objetos cruciais. Uma navalha que tanto pode limpar e embelezar, quanto ferir mortalmente. Uma máquina de escrever cujo som ou silêncio pode significar a competência ou incompetência de alguém. Um quadro que, de sonho, torna-se realidade.

O design de alguns objetos também chama a atenção: a caixa de fichas que o recepcionista coloca sobre o balcão ao procurar a reserva de Fink (praticamente um notebook !) e a mesa triangular do agressivo agente, um dos poucos contatos de Barton em Los Angeles.

Outro objeto curioso, que nos leva a reflexões mais profundas, é a foto de Carol ainda criança, cercada de familiares e principalmente do suposto pai, na foto, à direita. Polanski dá bastante ênfase a ela ao longo do filme e essa dica reverte-se para nós em pulga atrás da orelha. Como disse o dono da mesa triangular “What the hell happened ?” Houvera esse olhar (e sua condicão psíquica) sido provocado por alguma atitude do pai, ou ela já tinha por ele uma mistura de ódio, medo e desejo que precedia até mesmo sua existência ?

O olhar do vizinho de Barton tem grande semelhança com o dela, mas não parecemos encontrar ódio ali. Talvez admiração na escuta encantada de um ator em segundo plano que aguarda o momento de sua fala. Teria o filme essa falha ? Enquanto isso, Barton descreve parte do trabalho do diretor, do escritor e, por que não?, do arquiteto: "I try to drag something from the inside; something honest.”

Nesses dois últimos parágrafos talvez estejam resumidas as idéias primordiais tanto da equipe de cinema quanto de arquitetura:
1) criar algo inspirado no próprio ser humano, suas peculiaridades e seu cotidiano;
2) algo que não termina quando acaba, mas que deixa reflexões para depois e sempre.

Clip elaborado a partir dos filmes Barton Fink, dos irmãos Cohen e Repulsion, de Roman Polanski. A proposta de trabalhar com esses filmes foi da disciplina Arquitetura e Cinema, da prof. Carmen, oferecida no mestrado em Arquitetura e Urbanismo do NPGAU-EA-UFMG. Para as questões relativas à teoria de Freud, foi consultado o livro da Ana Maria Portugal e, para as questões do filme, a bibliografia da disciplina. Para entender as teorias de Freud e Lacan aplicadas às nossas questões contemporâneas, recomendo a leitura do texto Tecnocracia do Viver, de Monica de Almeida Belisário.

PORTUGAL, Ana Maria. O vidro da palavra – o estranho, literatura e psicanálise. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

GPS e Critério

Digamos que Goethe tivesse um GPS e marcasse todos os passos de sua "Viagem à Itália" de modo que a pudéssemos refazer com fidelidade.  E que, só como desafio, tivesse deixado alguns geocaches para recuperarmos e nos sentirmos recompensados. Na verdade, ele deixou. E estão todos em seus livros e em nossa imaginação. Adoro tecnologia, desde que nos favoreça e não diminua nossa criatividade e o sentido do acaso, que pode ser bem positivo. Se você conta um lugar legal que visitou em Londres e um amigo quer repetir, você pode passar sua rota via GPS e ele não cometerá erros. Mas e se os "erros" dele o levarem a lugares ainda mais interessantes ? É claro que ninguém quer se perder e cair em uma favela ou ir para o lado errado em uma estrada deserta, mas bem que ficar perdido em cidadezinhas charmosas pode ser super agradável, não? A regra geral é clara: usar o instrumento com critério é sempre uma boa escolha. Mas a primeiríssima regra é inesquecível e do Pessoa: "Navegar é preciso, viver não é preciso." Falando assim, parece até que ele tinha GPS. Mas critério, com certeza, ele tinha.


A foto é de uma Stave Church (igreja com estrutura e acabamento em madeira esculpida) que fica em Oslo. Já a havia visto em um livro sobre arquitetura de igrejas e fiquei interessada em conhecer. Mas quando li que era na Noruega, pensei: Muito longe, nunca irei vê-la... Um belo dia, que decidi na antevéspera passá-lo todo em Oslo,ou seja, sem tempo de planejar nada, peguei um ônibus da estação para o Folksmuseum e dei de cara com a dita cuja. Não tinha GPS, nem mapa, nem falo Norueguês. Viver não é preciso; é precioso !

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A loucura de Virgínia


Ultimamente tenho pensado se não há um pouco da “loucura de Virgínia” (Woolf) em cada uma de nós. E se essa loucura, com um lado extremamente positivo, não vem à tona a cada TPM.

Ora, tornamo-nos mais sensíveis e, assim, temos idéias mais criativas. Tornamo-nos mais perspicazes, identificando perversidades ou desajustes que outrora poderiam passar despercebidos. Tornamo-nos mais críticas e, se o autoconhecimento permite, mais autocríticas; podendo isso ser de grande ajuda para a melhoria, não só do nosso trabalho e da nossa existência, mas também de tudo o que nos cerca. Tornamo-nos menos tolerantes; isso inclui tolerarmos menos as injustiças, os abusos, as violências de todo tipo. Entretanto, somos vítimas de preconceito. “Está de TPM” tornou-se um comentário quase ou tão cruel quanto “Está gorda” ou “Está velha”. Uma mulher com TPM grita. Grita por seus direitos e pelos direitos do seu semelhante. E seus gritos incomodam os outros. Até mais do que ela se sente incomodada pelo que acontece em seu corpo. Dentro de si ela sente o mundo e sua dor mas, também, a sua realidade.

Virgínia usava seus períodos de loucura para criar. Mergulhava em seu trabalho; presenteando-nos com personagens sensíveis e profundos. A TPM poderia ser o grande trunfo das mulheres se a encarássemos de outra forma. Mas temos tendência a aceitar o rótulo e nos considerarmos menos capazes, quando na verdade poderíamos ir além. Convidam-nos a ingerir substâncias para nos tranqüilizarmos, drogas “inocentes” que prometem nos tornar “estáveis”. Na verdade são antidepressivos que terminam por nos tornar apáticas: máquinas humanas controláveis. Por que, se é justamente na variação que se pode encontrar o equilíbrio? Se é justamente nos períodos de maior percepção que entendemos o que está nos fazendo mal e decidimos mudá-lo? Ou seja, temos um período mensal onde estamos abertas aos questionamentos, às mudanças, às reflexões mais difíceis. Não seria melhor jogarmos a favor da TPM e não contra ela? A melhor forma de transgressão é o jogo inteligente. Então, ao invés de nos queixarmos, por que não tiramos proveito, encarando-a como um presente, uma grande oportunidade?

Robert Venturi escreveu um livro entitulado “Complexidade e Contradição em Arquitetura”, onde ele diz algo que se aplica diretamente a nós e pode nos servir de inspiração:

“Acolho com prazer os problemas e exploro as incertezas. Ao aceitar a contradição, assim como a complexidade, tenho em vista a vitalidade, tanto quanto a validade.”

Ou ainda:

“Sou mais favorável à vitalidade desordenada do que à unidade óbvia”.

“Sou mais pela riqueza de significado do que pela clareza de significado.”

Mais à frente, ele cita Josef Albers: “A origem da arte é a discrepância entre o fato físico e o efeito psíquico.” Mas tantos filósofos, entre eles Bauman, já não nos disseram que a vida é uma obra de arte? O que estamos esperando, então ? Mãos à obra, mulheres, e viva a TPM !


O restaurante da foto chama-se Tiramisú e fica em frente à praça Peru, no bairro El Golf, Santiago do Chile.

sábado, 25 de setembro de 2010

Uma música, um livro, um café

Outro dia, ouvindo rádio no carro, fiquei cismada com uma música, pensando se a havia entendido bem. Dizia no refrão I like the way you lie ("gosto do jeito que você mente"), I like the way it hurts ("gosto do jeito que isso dói"). Qual seria o objetivo daquilo ? Por que uma mensagem tão pesada ? Mas ao mesmo tempo tive um lampejo de esperança de que a música pudesse esclarecer para algumas pessoas que determinados relacionamentos podem não ser saudáveis e que elas, de alguma maneira, gostam de mantê-los. Talvez a letra as fizesse pensar. E pensar em mudar. Refleti sobre isso, em intervalos, durante algumas semanas até que o livro chegou às minhas mãos.


Foram dias de stress e grandes descobertas. Em uma casa onde ninguém falava inglês, encontrei um livro na gaveta de uma mesa de cabeceira de um quarto em que ninguém dormia. O nome que estava escrito no livro era de alguém que nunca havia estado ali e a edição era de 1962.  O título era em francês, mas o conteúdo havia sido traduzido para o inglês. Era certamente o livro de alguém que ainda estudava a língua, pois diversas das palavras estavam grifadas, destinadas a um confronto com o dicionário. Quando o publicou a autora tinha 24 anos; a personagem principal, 39.


Paule, contava a autora, era uma mulher envolvida em um relacionamento complicado com um homem que não se comprometia. Deixava-a a esperar não só por ele mas por qualquer atenção verdadeira que lhe pudesse dispensar. Vivia na solidão. Não dispunha do olhar - "lacaniano" - do outro sobre ela. Depois de ser tão negligenciada e sempre a par das amantes com quem ele desfilava sem pudor, ela se envolveu com um rapaz quatorze anos mais novo. Ele se apaixonou e viveram uma história juntos. Ele preenchia sua vida, tirou-a da solidão. Mas, passado um tempo, ela escolheu voltar para o homem que a abandonava. Ela gostava do jeito que ele mentia. Gostava do jeito que isso a fazia sofrer. E mergulhava em seus livros no sábado à noite. O vácuo em que ele a deixava tornara-se, para ela, mais importante que a felicidade. Mas li esse livro em um só dia; dois dias depois de tomar um café com a minha mais antiga amiga.


Pensei que a conversa tomaria outros rumos. Mas como desejava há muito tempo, falamos de assuntos profundos. Depois de cinco anos de psicanálise ela estava pronta e perguntou o que eu sabia sobre o que ela queria saber. Contei. Falamos sobre a música, mas o livro eu ainda não havia lido. Falamos sobre um casal que, de tanto se restringir ao seu próprio mundo, acabou por adoecer um ao outro. Por agravar o estado mental de um sob a tortura e o prazer do outro. Falamos sobre o quanto temos de estar atentos às nossas necessidades e respeitarmos nossas identidades, nossa dignidade, nossa coragem.


E ao ouvir a música, lembrarmo-nos do livro e da vida real. Para que seja real, de fato. Para que não a deixemos escondida sob nossos medos e vergonhas. Que venham à tona as verdades, ainda que tenhamos que interpretá-las para compreendê-las. Mas elas têm que emergir, sair de suas cascas e tirar-nos de nossa solidão.


A música é Love the way you lie, composta por Marshall Mathers, cantada por Eminem e Rihana.
O livro é Aimez-vous Brahms..., de Françoise Sagan (pseudônimo de Françoise Quoirez).
O café da foto fica em Notting Hill, Londres, mas não foi lá que nos encontramos... Tomamos café no California Coffee, do Diamond Mall.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O segredo da Vitória

O segredo dessa moça é receita
guardada num frasquinho:
conheça seus limites e desejos,
lute por eles com delicadeza e determinação
assim encontrará o brilho e a doçura
o perfume e a delícia da vida.
Nesse caminho, você já sabe,
há muitas pedras.
Desvie-se delas. 
Use seu charme, se preciso,
e muita criatividade.
Não desista de quem você é
para se tornar o que nunca foi.
Confie no seu coração e na sua verdade.
E quando tiver vontade de chorar
- essa corrosiva solidão maldita -
lembre-se de que estamos ao seu lado
mesmo que para além do Adriático.
Houve um momento em que também chorei
Precisava de um pai que me levantasse e me guiasse
Mas ele nunca existiu de fato
Descobri que essa figura tinha que ser eu mesma
E passei a exercer o papel que seria dele
De me proteger
de desejar para mim o que houvesse de melhor,
fazer com que eu acreditasse que merecia.
E assim aconteceu.
Talvez esse seja le secret de victoire...
Passamo-lo nos lábios para lembrar de não esquecer.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Joie de vivre

Acabou a hibernação
Apesar de ainda estar bem frio
É tempo de acordar
Os caracóis deslizam sonolentos
Mas sabem que a festa já começou
A vida se renova
Dieta, pedalação
Alegria de viver, entusiasmo
Planos e projetos
Nada como um dia depois do outro.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Poética filosofia da conta bancária

Poesia é que nem conta bancária
Que é que nem filosofia
Não se deve falar sobre
Mas há que se saber.
Deve-se depositar muito
e sacar apenas o necessário,
mas bem discretamente.

Todos três ajudam a viver melhor
A poesia ajuda a manifestar o que a filosofia só tenta entender
Não são assunto,
mas subsídio.
Não são palavra,
só argumento.
Astúcia, recolhimento.

"Vento, diga por favor...."

Se pudéssemos ter de novo todas as pessoas e seus momentos....
A amiga que ensinou a descascar cebola,
a outra que engravidou aos 19,
a que abortou aos 17 e era tão querida...

A avó que picava couve
O padeiro que dava suspiro
As ladeiras de Lisboa,
que também têm vida

A professora de ballet
A de piano
E a música que não aprendemos a tocar
Nem a dançar
Porque a única que ouvimos
é o silêncio dessa gente
que um dia fez parte da nossa vida
E o vento não conta onde se escondeu.

Tempestade

Tentei malhar
mas não consigo
Parece que tem algo maior
para o que estou guardando meus músculos
(e minha celulite).

Como um animal hiberna
Tento sobreviver à mudança do tempo
Mas é inútil
Porque mudo junto com ele
E não tenho só quatro estações.

Não sei onde é minha próxima parada
Por isso não me movo
Para quem não sabe onde vai chegar
A calmaria é uma tempestade.

Já disse Manoel de Barros:
"Em casa de caracol,
até o sol encarde."

Hoje fui às compras

Hoje fui às compras.
Comprei um monte de coragem
Ela vem em potinhos coloridos
cujo conteúdo a gente passa nos olhos
antes de sair de casa.

Comprei também algumas certezas
Muito necessárias para não nos sentirmos nus de nós mesmos

Já a auto-confiança
Tive que procurar por longo tempo
Mas acabei encontrando.
Perguntaram-me se queria que as embalasse em caixas ou saquinhos
Preferi estes, assim posso acumular mais, em menos espaço.

Na hora de pagar, fiz o que se faz;
adiei para o mês que vem.
Tomei tempo emprestado,
achando que o comprei.
Tempo pra estar alegre,
no fim, gato por lebre.
Cor que apaga,
Pano que desbota,
Calçado que machuca.
A única que não falha
é a conta debaixo da porta.

Amigas paradoxais

Uma queria ser jornalista, a outra, advogada
A "jornalista" virou advogada
E a "advogada", analista (de sistemas)
Depois a "jornalista" estudou muito e se tornou servidora pública
E a "advogada" voltou para a escola e se tornou arquiteta

A "jornalista" encontrou o amor aos 16 anos e meio
A "advogada", aos 33
Antes disso eram só tentativas frustradas
(mesmo que levadas a sério)
O primeiro amor de uma foi o último da outra
Mas a história ainda está longe de acabar

Ambas se perguntam o que estão fazendo neste planeta
Onde foram parar seus sonhos ?
De que eram feitos ?
Para que serviam ?

A que quebrou todos os protocolos
Sabe exatamente como serão seus dias até envelhecer
A que tinha tudo planejado
agora não tem a mínima idéia do que fará amanhã

Existe alternativa ?
Alguma opção que não seja viver mecanicamente ou eternamente preocupado ?
Castrado ou surtado ?
Alguma explicação ?
Talvez só a resposta do Guimarães Rosa:
"O que a vida quer da gente é coragem"

Easier said than done.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Hoje sonhei com você

Sonhei que estávamos em pleno ato intergaláctico
De repente vi o mundo em 3D todo feito de estrelas
Deslizávamos em alta velocidade pela escuridão
Bocas e mãos em corpos indesgrudantes
Até explodirmos nós mesmos em luz
Acordei e a energia desse universo
ainda não escapou de mim.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Dias e dias


Temos dias urbanos e dias suburbanos. Dias em que queremos andar entre "as gentes", ver o movimento, fazer parte de algo além de nós mesmos. E dias em que não queremos ouvir uma única buzina. Sentir apenas o vento a nos empurrar para aquilo que queremos ser.

Nos dias urbanos enfrentamos o trânsito com bom humor. Peregrinamos de um lugar a outro, realizando as tarefas e dando OK na interminável lista que nos acompanha.

Nos dias suburbanos brincamos com o gato e colocamos a leitura em dia. Atualizamos também o exercício da contemplação. Com uma xícara de chá nas mãos, olhamos a janela durante horas enquanto nos entregamos a pensamentos que renovam a alma.

Nos dias urbanos, conversamos com os outros, trocamos gentilezas e sorrisos, nos socializamos.

Nos dias suburbanos, somos apenas nós mesmos e a solidão, a anti-matéria de que somos feitos.

O problema é quando misturamos tudo e temos que ir à cidade no dia em que queremos ficar fora dela, ou ficamos presos em casa, quando queríamos ver gente.

Aceitar que temos dias de um e de outro jeito nos ajuda a entender que a vida é feita mesmo de variações. Que alguns dias somos assim e outros, somos "assado". Às vezes estamos de mau humor sem motivo aparente, e às vezes achamos a vida a melhor coisa. E isso não é o fim do mundo.

Se somos assim conosco mesmos, imagina com os outros. Chegamos à conclusão, outro dia, de que não somos metades de laranjas como sugeriu o filósofo, mas metades de queijos suíços cheios de furos. Não temos que gostar-de-tudo-o-tempo-todo-no-outro nem em nós mesmos, mas sim, aprender a lidar bem com esses buracos. Com o vazio, afinal. Com o acaso. Com essa contraposição de que é feita a vida. Urbana ou suburbana, seja ela qual for.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Retroescavadeira


Tenho a impressão de que ao educar as crianças estamos preparando o terreno para que construam seus prédios. Estamos tornando seu espaço mais adequado para suas futuras obras, para o que vão fazer de suas vidas. E a terraplenagem nem sempre é simples. Em alguns pontos cortamos e fazemos taludes, em outros fazemos aterros e muros de arrimo. Cortamos companhias de caráter duvidoso e os colocamos em treinos de esporte para que se tornem fortes de corpo e alma, colocamos em aulas de reforço e damos apoio incondicional. Temos que entender o que eles precisam e querem para podermos transformar o terreno de acordo. É uma tarefa árdua que dura longos anos. A drenagem também é importantíssima. É através dela que as crianças serão capazes de reter informações ou dispensá-las, de acordo com o que lhes for mais importante. E uma caixa de retenção de tamanho adequado torna essas crianças mais sustentáveis. E como é bom ter essa meta de ser sustentável ao longo da vida ! Ser sustentável, traduzindo o termo ecológico, é ser capaz de criar soluções para seus próprios problemas. Criar soluções, muita criatividade, não é isso o que desejamos para nossas crianças ? Que sejam criativos, felizes e vivam com conforto e independência? Esse trabalho todo é impossível de ser feito só com as mãos ou mesmo pás. Às vezes me pedem ajuda, costumo usar algo que herdei da minha mãe: uma retroescavadeira. No lote em que ela trabalhou, a construção ainda está nas fundações. O projeto original sofreu várias mudanças - o que gerou bastante retrabalho - e algumas alterações - que se mostraram enormemente prazerosas - mas tenho amigos cuja obra já está bem adiantada.

Behind and Beyond

Being among philosophers, or at least being amongst their writings, means to be in contact with things from a different point of view. With their help we can have a glimpse on habits, aspirations, anxieties and other aspects related to living between the earth and sky as human beings. They are like DJs who anticipate the wishes and understand the public, noticing how people enjoy the music, how enthusiastic they are and maybe even understand why. Of course they can influence and change the ambience due to their choices of what music to play next, but this is another story. I would like to focus on what they see and share with us.

Through Heidegger we can realize that our lives are connected to four important aspects: earth, sky, eternity and mortality. That if we can identify these elements in something, it can be called a “thing”, otherwise it will be a mere object. He also tells us how we should make the most of language as a source of knowledge instead of using it only as words one after the other. For example the verbs to be and to dwell have the same origin and knowing it can change our understanding about what they actually mean in our lives.

Through Flusser, we can have a hint about how far we are from what really matters, being intercepted all the time by the media which doesn’t encourage us to have direct contact with the world. He alerts us to the fact that we are prompted to work without thinking, as much as buying groceries at the supermarket keeps us unaware of the concerns about growing vegetables.

The mechanical approach to our issues is blinding us to what is important in the outside world and in our inner self. We receive information all the time, but does it improve us, does it change our relationship with the ones we love ?

Some of Botton’s more frequent concerns seems to be how comfortable we are within ourselves, our homes, our cities, our beloved. His words can make us feel less alone and a bit protected against the uncanny of a living being who looks for distractions that apparently keep out the sole certainty: death.

Bauman doesn’t let us forget how fluid our world and life are and Lipovetsky show us how consumption is being used as a deluded means to ease this pace.

What all of them ask us to do is to think. They all suggest that thinking is the only way to see behind the curtains of mass media. Look with our own eyes and see beyond.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Caminhos ? Não há.

Somos programados porque moramos em prédios que não nos permitem derrubar paredes e configurar o espaço para melhor nos atender. Porque vivemos em cidades tão grandes que não podemos ir a pé para o trabalho e ficamos à mercê do transporte público e dos engarrafamentos. Porque nossos filhos estudam em escolas que não os incentivam a pensar fora da caixa e, quando reclamamos, dizem que estão seguindo o programa. Pode apostar que estão ! Porque assistimos TV, que é uma das interpretações em décimo grau do que um dia fomos capazes de sentir e já nem nos lembramos. Porque optamos por nos distrair, porque optamos por fechar os olhos. Somos programados para morar em lugares que desabam só porque não acreditamos no quão líquido é o mundo até que a nossa casa escorra morro abaixo. Esses tempos líquidos dos quais o Bauman tanto nos alertou e agora se fazem literais em tempestades e alagamentos até que não os ignoremos mais. Somos traídos pelo chão em que pisamos e temos que correr atrás da nossa identidade; como se recompô-la fosse simples como emitir um novo documento. A única forma de esgotar o programa é deixando de retroalimentá-lo, é rompendo o ciclo, é se recusando a se tornar uma imagem líquida a escorrer pela janela brilhante das transmissões. Não temos que nos distrair da nossa "consciência infeliz", já nos disse Hegel. Precisamos enfrentar e dialogar (criar informação nova a partir do conhecimento compartilhado, segundo Flusser). Dedicados como os atletas, concentrados como os ginastas sobre a barra, com a determinação de quem sabe onde quer chegar. "Caminhos não há, mas os pés na grama os inventarão" (Ferreira Gullar)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Sabe lá ?


Mesma sala, mesma disciplina, mesmo professor, mesma situação de prova, só eu não era a mesma, pois não estava ali como aluna, pela primeira vez. Nem o papagaio que, em outros tempos, falava tudo, menos as respostas que queríamos para as questões que nos arrancavam suores. Como aplicadora de prova, podia ficar olhando a janela para sentir falta do papagaio. Quando tínhamos aula lá, queríamos que ele sumisse, mas agora sumiu e senti falta. Fiquei com dó daqueles alunos que não precisam ter raiva do papagaio. Enquanto tudo isso acontecia, lia um livro do Alain de Botton em que ele, "nesse exato momento", citou Sêneca e sua tese de que temos raiva porque temos esperança, porque somos otimistas e insuficientemente preparados para as frustrações inerentes à existência. Mais adiante, ele diz que o Terminal 5 do Aeroporto de Heathrow, em Londres, tem mais lojas que a média dos Shopping Centers e que às vezes é criticado por isso. Então expressa sua incompreensão em relação a essa crítica dizendo, em sua costumeira prosa deliciosamente poética, que não entende que ponto essencial da identidade de um edifício aeronáutico foi violado pelo fato dele ter lojas, já que muitas vezes visitamos shoppings mesmo que eles não nos ofereçam o prazer adicional de um portão para Johannesburgo. Em outro trecho, ele vai à livraria e procura por um livro em que uma voz genial expresse emoções que o leitor já sentiu mas nunca entendeu; que revele segredos, coisas do cotidiano que a sociedade prefere não dizer; que possa fazer com que alguém se sinta menos sozinho e estranho. Nessa hora lembro-me do Flusser e sua teoria sobre a linguagem, onde diz que a linguagem foi criada para que o homem se distraísse da falta de sentido do intervalo existente entre o nascimento e a morte. Que a comunicação é um dos melhores recursos para não ficarmos pensando que um dia vamos morrer e que não temos idéia do que virá depois. Vai ver era essa também a angústia do papagaio, sabe lá ?

Obras citadas:
Vilém Flusser - "O mundo codificado"
Alain de Botton - "A week at the airport - A Heathrow Diary"

Foto: Aeroporto de Heathrow Agosto 2007

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Vestígios


Acorda e curte a delícia de edredon. Percebe o sol e levanta rápido. Abre a cortina e vê o dia lindo de abril como um presente. Biquini, filtro solar, mas ainda está frio lá fora. Separa o chapéu e sai do quarto em silêncio. Café fresquinho com leite. Pão fresquinho com manteiga derretendo. Hoje é sábado, então dá para comer um bolinho de sobremesa. Para a mãe dela, todas as refeições tinham que ter sobremesa; e esse é o motivo do restinho de café com leite que sempre fica para arrematar o doce. Doce como ela era. E doce fica o dia. Recolhe as roupas do varal e põe as toalhas na máquina. As louças já estão lá, sacudindo. O barulho das duas funcionando ao mesmo tempo é a música da libertação feminina. Chapéu e óculos a postos, faltam as luvas, a enxada e o saco plástico. Ainda não inventaram uma máquina que capine o jardim. Mas capinando se limpam todos os problemas da vida, como se fosse uma borracha que arranca junto a raiz. Ela poderia estar na Toscana, no sul da França ou em um belo jardim inglês. E se sente assim. A cada ramo que sai, um aprendizado. Alguns problemas, quando olhamos antes de lidar com eles, parecem difíceis de arrancar. Quando tentamos, vêm rápido e com a raiz inteira. Surpresa. Outros parecem frágeis mas não saem nem com muita força na enxada. Pior, dividem-se e sabemos que vão se multiplicar. De qualquer forma, exercitam-se as costas e os peitos tão cedo vão precisar de plástica. E tem gente que paga para ir à academia fazer força. Horas e horas de sol e capina. O marido vem e traz água de coco. Se beijam e ele vai pegar o seu quinhão de jardim. A piscina está tão linda quanto gelada. Alguns minutos de recuperação no colchão de água e outros na cadeira de sol. Teve que tirar o gato para poder deitar. Está carente, meio adoentado e, por isso, ainda mais folgado. Enquanto ela capina, ele se deita perto. E dorme. As crianças vão para o clube com os amiguinhos. Ele pergunta o que vão almoçar e ela, se ele gosta de panqueca de frango. A resposta vem com sorriso e ela vai fazer. Mas antes põe um pouco de ordem na sala. Cozinha. Medidor de xícara. Medidor de colher. Mini multiprocessador. Cozinha equipada é como saber que o guarda chuva está na bolsa para o caso de chover: dá até vontade de usar. A comida dela é só assim, de supetão. Detesta ter que programar alguma coisa, entra em pânico. A receita é da mãe. As boas recordações agora são jóias belas de se ver; já não fazem chorar. Pelo menos, não toda vez. Comem na mesa de xadrez do avô, ele rindo porque ela só cozinha tomando alguma coisa (geralmente uma cerveja que deixa na geladeira o tempo todo para não esquentar nem um milímetro). Chocolate com espresso de sobremesa. O médico disse que só pode comer doce fim de semana depois do almoço. Será que um dia ela vai conseguir ? Cozinha arrumada, volta para a enxada. Ano passado plantaram a grama, que já está linda. Agora ela sonha com as sementes que vai jogar para ano que vem ver tudo florido. Talvez consiga fazer da jardinagem o seu exercício de espera. Toma seu banho e se senta para costurar uma calcinha da filha que descosturou; depois é só ler sobre flores. O marido e as crianças estão na cozinha preparando quiche. Comem e o dia termina com risadas na cozinha. Novamente o edredon macio, o sol e o café. Banho, roupa escolhida de véspera. Pega o carro e vai. Feriado emprensado, trânsito tranqüilo. Estaciona no escritório e vai a pé buscar os óculos que estavam consertando. Na volta, curte um cappuccino na livraria preferida folheando um guia de Londres, lugar onde mora a sua alma.

A fenomenologia da maquiagem ?


Na vida, como em uma paleta de maquiagem, temos as cores. Trabalho, dinheiro, casa, mãe, namorado (agora marido). Mas os melhores pincéis não são os que vêm no estojo. Os bons pincéis são caros e temos que adquiri-los aos poucos, com o passar do tempo. Eles são a experiência. O casamento também é um pincel, mas o entusiasmo por si mesma é aquele pincel que aplica a base, sem o qual a maquiagem não pode começar. Há pincel para tudo: para o canto do olho, quando precisamos dar o realçe final a algo que já está bom. Assim ele faz diferença mas, sozinho, não produz bom resultado. Na vida, esse pincel é o dinheiro. O casamento é um dos pincéis mais usados: aquele que une a cor base da maquiagem (marrom, preto - o seu "eu") à cor que vai amenizar o encontro com a realidade. A realidade é a sombra branca ou de outra cor bem clara, que é a luz. A cor intermediária pode ser qualquer uma: azul, verde, roxo, rosa. Ela só serve para misturar o seu "eu" com a realidade e pode deixar tudo muito mais bonito e harmonioso. Essa cor é o homem da sua vida. Pode ser qualquer um, desde que combine com você e seja bem aplicado com o pincel correto. Essa "segunda cor" nunca é mais importante que a primeira, mesmo que tenha brilho. O delineador é usado para dar a ilusão de que você tem mais cílios; não importa se foi ou não agraciada com essa benesse pela natureza. Cílios nunca são demais. Na nossa vida, o delineador é o trabalho. Ele serve para realçar o que você tem de melhor. É fundamental saber aplicá-lo bem, mas isso exige treino. Já a oportunidade de usar é você quem faz. O rímel é a família de origem. Nenhuma mulher pode ficar sem. O lápis de olho é a família que você cria a partir de si e desse homem que escolheu. Às vezes você chora e ele sai, mas aí você saca o dito cujo da bolsa e aplica de novo. Todo mundo fica melhor com lápis de olho.

Essencial para que o preparo dê certo: Nunca se esqueça que você é um indivíduo e jamais passe tempo demais sem pintar os olhos.

Foto encontrada no site www.makeupgeek.com Fantástico !!!!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Mutatis mutandis



Pois é, como não existe nada definitivo, gostaria de acrescentar algumas coisas na postagem que fiz dia 27 de fevereiro. Hoje percebi que considerei a relação homem-edifício mais pelo lado interno que externo, mais pelo funcionário que lá vai trabalhar que pela interação entre esse funcionário e o mundo exterior ao centro administrativo. Há um grupo de pessoas que acham óbvio que manifestações vão ocorrer lá, já que há uma área designada para esse fim, com "palanque" e tudo. Porém, quando eles perceberem que as manifestações ali dentro não causam impacto, vão fechar a rodovia (como já ocorreu) e, se não alcançarem seus objetivos, farão passeatas ao longo da rodovia. E isso parece óbvio. O isolamento de todos em uma região ainda amorfa gera esse tipo de circunstância, mas eu não havia me dado conta disso logo de cara. Mas acho também que não se deveria deixar de fazer só por causa dessa eventualidade, que fique bem claro. Essa discussão começou porque falávamos da recente proibição de manifestações públicas na Praça da Estação, cuja reforma foi projetada inclusive para esse fim. Voltamos à ditadura ? Mutatis mutandis !!!!
p.s. A foto é uma tentativa de manifestar aqui o sonho que tenho de chegar de metrô (ou trem, ou qualquer meio de transporte público, rápido e eficiente) ao Aeroporto de Confins. Foi feita a linha verde, mas Mutatis mutandis ! Bem que o Harry Potter podia nos ensinar esse feitiço !

segunda-feira, 8 de março de 2010

Novas leituras


Li recentemente A República dos Bons Sentimentos, do Michel Mafesoli. O já conhecido espírito esclarecido do autor para interpretar os indícios do que seu tempo tende a projetar para o futuro, extrapola todas as expectativas ao nos mostrar o quanto a vida cotidiana é importante na elaboração de um pensamento/trabalho arrojado e audacioso. O mais importante elemento, segundo ele, é a preocupação genuína com a coletividade. "E por mais paradoxal que possa parecer, a verdadeira subversão teórica consiste em estar sintonizado com o senso comum". O princípio de Habermas - da emancipação - segundo Mafesoli, foi substituído pelo sentido de estar-junto e, nessas condições, propor novas soluções. Não é uma questão de oferecer respostas prontas, já elaboradas desde o século XIX ou nos anteriores, mas criar novas perguntas direcionadas aos valores do cotidiano, obtendo, assim, novas respostas. Entre as várias idéias compartilhadas pela Arquiconfraria, está aquela em que ele cita Jung: "a prática da ciência não é um combate cujo objetivo é ter razão, mas um trabalho que contribui para aumentar e aprofundar o conhecimento".
Na corrente desses pensamentos, gostei muito de um programa criado pelo Alain de Botton, chamado Living Architecture. A inspiração dele é possibilitar que as pessoas experimentem viver em um espaço projetado por arquitetos famosos. As casas estão sendo construídas e poderão ser alugadas por temporada, na Inglaterra. Mais informações
http://www.living-architecture.co.uk
Desse modo, diversos dos elementos que prezamos, como domesticidade, praticidade, conforto, aconchego, etc, quem sabe poderão ser medidos para averiguarmos se nossas decisões arquitetônicas vão de encontro às aspirações humanas ou demandam uma mudança de trajetória.
A foto é de uma casa modernista em Londres, projetada pelo Ernö Goldfinger, na década de 1930. Observem como ela está em sintonia com os demais edifícios da rua, apesar de apresentar uma forma e uma dinâmica totalmente diferentes do entorno. Recomendo a visita. É a única casa modernista tombada pelo patrimônio histórico inglês.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Alcoolivro

Hoje tive vontade de dizer ao mundo que me embriaguei. E que retomei esse vício ontem de tarde. A mesa em que me sentei para beber termina em "ar", mas não é de bar, é de carteira escolar. Entre conversas descontraídas e trocas de imenso conteúdo, tomei um longo porre com meus colegas. É um vício de muitos anos, desde a mais tenra infância. A adega-biblioteca de casa sempre foi recheada de delícias irresistíveis e, não satisfeita com o que bebia na escola, bebia mais em casa. As festas-provas eram desculpa para farras intermináveis entre destilados-técnicos e fermentados-filosóficos. Para suportar o denso scotch-física, buscava o suavidade do vinho-poesia. E conseguia encontrar um jeito de sobreviver consumindo-os ao mesmo tempo. Ainda bem, porque troquei o scotch-física pela tequilarquitetura, que com sal-lápis e limão-papel me deixam horas acordada, embevecida. Mas o vinho-poesia continua companheiro para as horas em que nada mais apetece. Sim, sou alcóolivra e é bom que eu diga isso o quanto antes. Não posso passar perto de um livro que o abro, de uma livraria, que entro. Meu sonho é um dia doar todos os livros para a biblioteca e depois morrer. Mas ainda vou me embriagar muito antes disso.
p.s. A sala de aula da foto é do século XIX, na Noruega.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O que é luxo para você ?


Hoje choveu tanto que quis me lembrar de um dia de sol como esse em que abri o cobertorzinho na grama para apreciar um pouco essa bela edificação (além de descansar as pernas que estavam doces de tanto andar !) Um palácio do século XI que acabou virando residência de magnatas no início do século XX. A parte que se vê na foto é bem medieval, mas do outro lado temos acesso a uma edificação de menos de 100 anos. Exemplar inigualável dos interiores no período Art Déco, a residência desse casal se tornou ícone de uma época e seu estilo de viver. Cercados pelo luxo e protegidos por uma grossa camada de patrimônio, com a intensificação da II Guerra, mudaram-se para a África, onde viveram em uma fazenda por longos anos. A energia do lugar é muito boa e é possível refletir ali sobre o efeito do capricho em nossas vidas. Aquele capricho bom de ter um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar.... de lavar as cortinas e sentir o toque suave da roupa de cama de algodão. O luxo muitas vezes é encontrado na simplicidade. Luxo para mim inclui poder preparar os arranjos que vão enfeitar a casa com flores do próprio jardim, como fazia Virginia, a dona dessa casa. E para você, o que é luxo ?

sábado, 27 de fevereiro de 2010

"Esse mundo é um sistema de coisas invisíveis, manifestadas visivelmente" São Paulo, Epístola aos Romanos I, 19-20

Uma ousadia tremenda. Mais de 290.000 metros quadrados construídos em 24 meses. Isso corresponderia a aproximadamente 10 apartamentos populares (de 40m2) por dia. A primeira laje tomou 46 dias de trabalho, a última, 12. A criação de qualidade no ambiente de trabalho como premissa para a formação de profissionais mais eficientes em uma estrutura de vanguarda. Talvez essa seja uma das provas mais instigantes que a arquitetura poderá nos dar: o quanto o ambiente afeta a auto-estima, o bem-estar, a produtividade e o comprometimento das pessoas. Essa obra, prestes a ser inaugurada, atesta a capacidade da equipe de superar qualquer obstáculo - de déficit de moradia a infra-estrutura urbana - que se coloque entre nós e o desenvolvimento.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Que tal um cantinho de leitura ?

Dia de chuva. Muita chuva. Mas mesmo assim saímos com vontade de ver coisas novas. O planejamento era ir ao parque para a exposição do Burle-Marx, mas a visão desse lugar foi irresistível e entramos. Um sopro de inspiração em cada canto. Vontade de se jogar no veludo azul e mergulhar nesse mar de livros.... Você sabe que lugar é esse ?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Que lugar é este ?


Tinha apenas um dia para fazer tudo. Pegar o trem, o avião - e o trem entre o trem e o avião ! - um ônibus e outro ônibus e...... chegar; para daqui a algumas horas ir embora de novo....
Uma viagem no tempo que termina no futuro. Igreja antiga e totalmente inédita, não se parece com nada do que está à nossa volta. Casas rústicas e seus modos de vida. Parada para um chá e uma deliciosa torta de chocolate. Mais uma pequena viagem através do neoclacissismo. Caminhamos por ele durante um bom tempo, como a própria humanidade. Quando achamos que estamos presos ao passado, temos a visão do futuro. Alguém conhece esse lugar ?