terça-feira, 15 de junho de 2010

Dias e dias


Temos dias urbanos e dias suburbanos. Dias em que queremos andar entre "as gentes", ver o movimento, fazer parte de algo além de nós mesmos. E dias em que não queremos ouvir uma única buzina. Sentir apenas o vento a nos empurrar para aquilo que queremos ser.

Nos dias urbanos enfrentamos o trânsito com bom humor. Peregrinamos de um lugar a outro, realizando as tarefas e dando OK na interminável lista que nos acompanha.

Nos dias suburbanos brincamos com o gato e colocamos a leitura em dia. Atualizamos também o exercício da contemplação. Com uma xícara de chá nas mãos, olhamos a janela durante horas enquanto nos entregamos a pensamentos que renovam a alma.

Nos dias urbanos, conversamos com os outros, trocamos gentilezas e sorrisos, nos socializamos.

Nos dias suburbanos, somos apenas nós mesmos e a solidão, a anti-matéria de que somos feitos.

O problema é quando misturamos tudo e temos que ir à cidade no dia em que queremos ficar fora dela, ou ficamos presos em casa, quando queríamos ver gente.

Aceitar que temos dias de um e de outro jeito nos ajuda a entender que a vida é feita mesmo de variações. Que alguns dias somos assim e outros, somos "assado". Às vezes estamos de mau humor sem motivo aparente, e às vezes achamos a vida a melhor coisa. E isso não é o fim do mundo.

Se somos assim conosco mesmos, imagina com os outros. Chegamos à conclusão, outro dia, de que não somos metades de laranjas como sugeriu o filósofo, mas metades de queijos suíços cheios de furos. Não temos que gostar-de-tudo-o-tempo-todo-no-outro nem em nós mesmos, mas sim, aprender a lidar bem com esses buracos. Com o vazio, afinal. Com o acaso. Com essa contraposição de que é feita a vida. Urbana ou suburbana, seja ela qual for.