quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A loucura de Virgínia


Ultimamente tenho pensado se não há um pouco da “loucura de Virgínia” (Woolf) em cada uma de nós. E se essa loucura, com um lado extremamente positivo, não vem à tona a cada TPM.

Ora, tornamo-nos mais sensíveis e, assim, temos idéias mais criativas. Tornamo-nos mais perspicazes, identificando perversidades ou desajustes que outrora poderiam passar despercebidos. Tornamo-nos mais críticas e, se o autoconhecimento permite, mais autocríticas; podendo isso ser de grande ajuda para a melhoria, não só do nosso trabalho e da nossa existência, mas também de tudo o que nos cerca. Tornamo-nos menos tolerantes; isso inclui tolerarmos menos as injustiças, os abusos, as violências de todo tipo. Entretanto, somos vítimas de preconceito. “Está de TPM” tornou-se um comentário quase ou tão cruel quanto “Está gorda” ou “Está velha”. Uma mulher com TPM grita. Grita por seus direitos e pelos direitos do seu semelhante. E seus gritos incomodam os outros. Até mais do que ela se sente incomodada pelo que acontece em seu corpo. Dentro de si ela sente o mundo e sua dor mas, também, a sua realidade.

Virgínia usava seus períodos de loucura para criar. Mergulhava em seu trabalho; presenteando-nos com personagens sensíveis e profundos. A TPM poderia ser o grande trunfo das mulheres se a encarássemos de outra forma. Mas temos tendência a aceitar o rótulo e nos considerarmos menos capazes, quando na verdade poderíamos ir além. Convidam-nos a ingerir substâncias para nos tranqüilizarmos, drogas “inocentes” que prometem nos tornar “estáveis”. Na verdade são antidepressivos que terminam por nos tornar apáticas: máquinas humanas controláveis. Por que, se é justamente na variação que se pode encontrar o equilíbrio? Se é justamente nos períodos de maior percepção que entendemos o que está nos fazendo mal e decidimos mudá-lo? Ou seja, temos um período mensal onde estamos abertas aos questionamentos, às mudanças, às reflexões mais difíceis. Não seria melhor jogarmos a favor da TPM e não contra ela? A melhor forma de transgressão é o jogo inteligente. Então, ao invés de nos queixarmos, por que não tiramos proveito, encarando-a como um presente, uma grande oportunidade?

Robert Venturi escreveu um livro entitulado “Complexidade e Contradição em Arquitetura”, onde ele diz algo que se aplica diretamente a nós e pode nos servir de inspiração:

“Acolho com prazer os problemas e exploro as incertezas. Ao aceitar a contradição, assim como a complexidade, tenho em vista a vitalidade, tanto quanto a validade.”

Ou ainda:

“Sou mais favorável à vitalidade desordenada do que à unidade óbvia”.

“Sou mais pela riqueza de significado do que pela clareza de significado.”

Mais à frente, ele cita Josef Albers: “A origem da arte é a discrepância entre o fato físico e o efeito psíquico.” Mas tantos filósofos, entre eles Bauman, já não nos disseram que a vida é uma obra de arte? O que estamos esperando, então ? Mãos à obra, mulheres, e viva a TPM !


O restaurante da foto chama-se Tiramisú e fica em frente à praça Peru, no bairro El Golf, Santiago do Chile.

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