segunda-feira, 12 de abril de 2010

Caminhos ? Não há.

Somos programados porque moramos em prédios que não nos permitem derrubar paredes e configurar o espaço para melhor nos atender. Porque vivemos em cidades tão grandes que não podemos ir a pé para o trabalho e ficamos à mercê do transporte público e dos engarrafamentos. Porque nossos filhos estudam em escolas que não os incentivam a pensar fora da caixa e, quando reclamamos, dizem que estão seguindo o programa. Pode apostar que estão ! Porque assistimos TV, que é uma das interpretações em décimo grau do que um dia fomos capazes de sentir e já nem nos lembramos. Porque optamos por nos distrair, porque optamos por fechar os olhos. Somos programados para morar em lugares que desabam só porque não acreditamos no quão líquido é o mundo até que a nossa casa escorra morro abaixo. Esses tempos líquidos dos quais o Bauman tanto nos alertou e agora se fazem literais em tempestades e alagamentos até que não os ignoremos mais. Somos traídos pelo chão em que pisamos e temos que correr atrás da nossa identidade; como se recompô-la fosse simples como emitir um novo documento. A única forma de esgotar o programa é deixando de retroalimentá-lo, é rompendo o ciclo, é se recusando a se tornar uma imagem líquida a escorrer pela janela brilhante das transmissões. Não temos que nos distrair da nossa "consciência infeliz", já nos disse Hegel. Precisamos enfrentar e dialogar (criar informação nova a partir do conhecimento compartilhado, segundo Flusser). Dedicados como os atletas, concentrados como os ginastas sobre a barra, com a determinação de quem sabe onde quer chegar. "Caminhos não há, mas os pés na grama os inventarão" (Ferreira Gullar)

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