sexta-feira, 30 de julho de 2010

Joie de vivre

Acabou a hibernação
Apesar de ainda estar bem frio
É tempo de acordar
Os caracóis deslizam sonolentos
Mas sabem que a festa já começou
A vida se renova
Dieta, pedalação
Alegria de viver, entusiasmo
Planos e projetos
Nada como um dia depois do outro.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Poética filosofia da conta bancária

Poesia é que nem conta bancária
Que é que nem filosofia
Não se deve falar sobre
Mas há que se saber.
Deve-se depositar muito
e sacar apenas o necessário,
mas bem discretamente.

Todos três ajudam a viver melhor
A poesia ajuda a manifestar o que a filosofia só tenta entender
Não são assunto,
mas subsídio.
Não são palavra,
só argumento.
Astúcia, recolhimento.

"Vento, diga por favor...."

Se pudéssemos ter de novo todas as pessoas e seus momentos....
A amiga que ensinou a descascar cebola,
a outra que engravidou aos 19,
a que abortou aos 17 e era tão querida...

A avó que picava couve
O padeiro que dava suspiro
As ladeiras de Lisboa,
que também têm vida

A professora de ballet
A de piano
E a música que não aprendemos a tocar
Nem a dançar
Porque a única que ouvimos
é o silêncio dessa gente
que um dia fez parte da nossa vida
E o vento não conta onde se escondeu.

Tempestade

Tentei malhar
mas não consigo
Parece que tem algo maior
para o que estou guardando meus músculos
(e minha celulite).

Como um animal hiberna
Tento sobreviver à mudança do tempo
Mas é inútil
Porque mudo junto com ele
E não tenho só quatro estações.

Não sei onde é minha próxima parada
Por isso não me movo
Para quem não sabe onde vai chegar
A calmaria é uma tempestade.

Já disse Manoel de Barros:
"Em casa de caracol,
até o sol encarde."

Hoje fui às compras

Hoje fui às compras.
Comprei um monte de coragem
Ela vem em potinhos coloridos
cujo conteúdo a gente passa nos olhos
antes de sair de casa.

Comprei também algumas certezas
Muito necessárias para não nos sentirmos nus de nós mesmos

Já a auto-confiança
Tive que procurar por longo tempo
Mas acabei encontrando.
Perguntaram-me se queria que as embalasse em caixas ou saquinhos
Preferi estes, assim posso acumular mais, em menos espaço.

Na hora de pagar, fiz o que se faz;
adiei para o mês que vem.
Tomei tempo emprestado,
achando que o comprei.
Tempo pra estar alegre,
no fim, gato por lebre.
Cor que apaga,
Pano que desbota,
Calçado que machuca.
A única que não falha
é a conta debaixo da porta.

Amigas paradoxais

Uma queria ser jornalista, a outra, advogada
A "jornalista" virou advogada
E a "advogada", analista (de sistemas)
Depois a "jornalista" estudou muito e se tornou servidora pública
E a "advogada" voltou para a escola e se tornou arquiteta

A "jornalista" encontrou o amor aos 16 anos e meio
A "advogada", aos 33
Antes disso eram só tentativas frustradas
(mesmo que levadas a sério)
O primeiro amor de uma foi o último da outra
Mas a história ainda está longe de acabar

Ambas se perguntam o que estão fazendo neste planeta
Onde foram parar seus sonhos ?
De que eram feitos ?
Para que serviam ?

A que quebrou todos os protocolos
Sabe exatamente como serão seus dias até envelhecer
A que tinha tudo planejado
agora não tem a mínima idéia do que fará amanhã

Existe alternativa ?
Alguma opção que não seja viver mecanicamente ou eternamente preocupado ?
Castrado ou surtado ?
Alguma explicação ?
Talvez só a resposta do Guimarães Rosa:
"O que a vida quer da gente é coragem"

Easier said than done.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Hoje sonhei com você

Sonhei que estávamos em pleno ato intergaláctico
De repente vi o mundo em 3D todo feito de estrelas
Deslizávamos em alta velocidade pela escuridão
Bocas e mãos em corpos indesgrudantes
Até explodirmos nós mesmos em luz
Acordei e a energia desse universo
ainda não escapou de mim.