quarta-feira, 17 de março de 2010

Mutatis mutandis



Pois é, como não existe nada definitivo, gostaria de acrescentar algumas coisas na postagem que fiz dia 27 de fevereiro. Hoje percebi que considerei a relação homem-edifício mais pelo lado interno que externo, mais pelo funcionário que lá vai trabalhar que pela interação entre esse funcionário e o mundo exterior ao centro administrativo. Há um grupo de pessoas que acham óbvio que manifestações vão ocorrer lá, já que há uma área designada para esse fim, com "palanque" e tudo. Porém, quando eles perceberem que as manifestações ali dentro não causam impacto, vão fechar a rodovia (como já ocorreu) e, se não alcançarem seus objetivos, farão passeatas ao longo da rodovia. E isso parece óbvio. O isolamento de todos em uma região ainda amorfa gera esse tipo de circunstância, mas eu não havia me dado conta disso logo de cara. Mas acho também que não se deveria deixar de fazer só por causa dessa eventualidade, que fique bem claro. Essa discussão começou porque falávamos da recente proibição de manifestações públicas na Praça da Estação, cuja reforma foi projetada inclusive para esse fim. Voltamos à ditadura ? Mutatis mutandis !!!!
p.s. A foto é uma tentativa de manifestar aqui o sonho que tenho de chegar de metrô (ou trem, ou qualquer meio de transporte público, rápido e eficiente) ao Aeroporto de Confins. Foi feita a linha verde, mas Mutatis mutandis ! Bem que o Harry Potter podia nos ensinar esse feitiço !

segunda-feira, 8 de março de 2010

Novas leituras


Li recentemente A República dos Bons Sentimentos, do Michel Mafesoli. O já conhecido espírito esclarecido do autor para interpretar os indícios do que seu tempo tende a projetar para o futuro, extrapola todas as expectativas ao nos mostrar o quanto a vida cotidiana é importante na elaboração de um pensamento/trabalho arrojado e audacioso. O mais importante elemento, segundo ele, é a preocupação genuína com a coletividade. "E por mais paradoxal que possa parecer, a verdadeira subversão teórica consiste em estar sintonizado com o senso comum". O princípio de Habermas - da emancipação - segundo Mafesoli, foi substituído pelo sentido de estar-junto e, nessas condições, propor novas soluções. Não é uma questão de oferecer respostas prontas, já elaboradas desde o século XIX ou nos anteriores, mas criar novas perguntas direcionadas aos valores do cotidiano, obtendo, assim, novas respostas. Entre as várias idéias compartilhadas pela Arquiconfraria, está aquela em que ele cita Jung: "a prática da ciência não é um combate cujo objetivo é ter razão, mas um trabalho que contribui para aumentar e aprofundar o conhecimento".
Na corrente desses pensamentos, gostei muito de um programa criado pelo Alain de Botton, chamado Living Architecture. A inspiração dele é possibilitar que as pessoas experimentem viver em um espaço projetado por arquitetos famosos. As casas estão sendo construídas e poderão ser alugadas por temporada, na Inglaterra. Mais informações
http://www.living-architecture.co.uk
Desse modo, diversos dos elementos que prezamos, como domesticidade, praticidade, conforto, aconchego, etc, quem sabe poderão ser medidos para averiguarmos se nossas decisões arquitetônicas vão de encontro às aspirações humanas ou demandam uma mudança de trajetória.
A foto é de uma casa modernista em Londres, projetada pelo Ernö Goldfinger, na década de 1930. Observem como ela está em sintonia com os demais edifícios da rua, apesar de apresentar uma forma e uma dinâmica totalmente diferentes do entorno. Recomendo a visita. É a única casa modernista tombada pelo patrimônio histórico inglês.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Alcoolivro

Hoje tive vontade de dizer ao mundo que me embriaguei. E que retomei esse vício ontem de tarde. A mesa em que me sentei para beber termina em "ar", mas não é de bar, é de carteira escolar. Entre conversas descontraídas e trocas de imenso conteúdo, tomei um longo porre com meus colegas. É um vício de muitos anos, desde a mais tenra infância. A adega-biblioteca de casa sempre foi recheada de delícias irresistíveis e, não satisfeita com o que bebia na escola, bebia mais em casa. As festas-provas eram desculpa para farras intermináveis entre destilados-técnicos e fermentados-filosóficos. Para suportar o denso scotch-física, buscava o suavidade do vinho-poesia. E conseguia encontrar um jeito de sobreviver consumindo-os ao mesmo tempo. Ainda bem, porque troquei o scotch-física pela tequilarquitetura, que com sal-lápis e limão-papel me deixam horas acordada, embevecida. Mas o vinho-poesia continua companheiro para as horas em que nada mais apetece. Sim, sou alcóolivra e é bom que eu diga isso o quanto antes. Não posso passar perto de um livro que o abro, de uma livraria, que entro. Meu sonho é um dia doar todos os livros para a biblioteca e depois morrer. Mas ainda vou me embriagar muito antes disso.
p.s. A sala de aula da foto é do século XIX, na Noruega.