quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Materialidade x Materialismo



Trabalha-se segundo o princípio de que uma das maneiras de se transformar os modos de pensar e agir de uma sociedade parte da transformação de suas formas de vida e de sua  articulação com a materialidade dos espaços que habita. Entende-se que é possível romper os limites da ação e do pensamento através da transformação das configurações físicas desses espaços, que são o próprio instrumento dessa transformação. Os espaços que se articulam ao habitar podem relacionar-se ao lazer cotidiano, necessário ao enfrentamento da realidade. Esses momentos de inserção na esfera pública possibilitam às pessoas atentarem para as questões que lhe são caras, seja como indivíduos, sociações* ou instituições. Segundo a leitura que Terry Eagleton (2012**) faz de Marx, não há motivo para nos deleitarmos na companhia uns dos outros, mas quando o fazemos, estamos concretizando uma demanda essencial para qualquer transformação. Esse contato com a alteridade possibilita que se construam modos de lidar com a natureza complexa e impermanente da realidade. As dificuldades enfrentadas e parcialmente registradas pela história devem-se às pressões materiais, mais que aos limites da condição humana. Um ataque às restrições impostas por essa materialidade pode ser um caminho frutífero que começa pela ampliação da consciência a respeito delas. Assim é possível pensar que alguém, um dia, ao estudar história, quase duvide de que já possa ter sido comum dispender mais de 20% da vida diária em deslocamentos cotidianos e em condições precárias de isolamento e/ou desconforto; assim como também de que se possam já ter dividido uma parede com alguém durante anos a fio sem nunca ter-lhe dirigido a palavra, caçado filhotes de foca e estripado pessoas em público por suspeita de heresia.

As duas imagens acima mostram a estonteante presença do edifício do Colégio Arnaldo na paisagem urbana de Belo Horizonte e, a partir de uma outra perspectiva - a quatro quadras dali - a quase invisibilidade de suas torres  sufocadas pelo ambiente construído que as rodeia.

Vergesellschaftung, um termo do sociólogo alemão, Georg Simmel.
** EAGLETON, Terry. Marx estava certo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

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