A tarefa do
arquiteto não é meramente elevar estruturas em concreto armado, mas "armar
para cima do concreto". Esse jogo de palavras - uma armação, de fato - quer dizer que, através
de modos criativos e inovadores de dispor os espaços sem desconsiderar a
importância de sua materialidade, de sua expressão material, os arquitetos encarregam-se
de propor respostas que dialoguem com uma abordagem técnica e teórica própria a
seu campo de trabalho. A arquitetura tem uma razão própria, uma razão que
estrutura sua ação em prol da transformação de realidades tangíveis e
intangíveis em que nos cabe viver. A sustentabilidade que a sustenta, que a
estrutura, por assim dizer, sustenta concomitantemente - e preferencialmente -
a vida das espécies, e não apenas do dinheiro em espécie; uma entre as tantas
que merecem consideração. É segundo essa razão própria à arquitetura que o
arquiteto molda suas idéias, molda a forma de suas idéias; formas que condicionam a anatomia de suas cidades
e alimentam a capacidade de seus cidadãos de transformarem-se a si mesmos e à
realidade que os articula nos espaços e tempos organicamente vividos. Não é à
toa que o concreto é passível de ser moldado em formas orgânicas, que aludem ao
seu potencial de aceitar diversas "armações" e inúmeras abordagens. Assim
como para o homem, os limites do concreto delineiam-se segundo os limites de
sua criatividade.
Essas reflexões não
teriam sido elaboradas sem a prolífica e inspiradora produção teórica do prof.
Carlos Antônio Leite Brandão - principalmente acerca da identificação de uma
razão-própria à arquitetura - e das edificantes análises críticas que a Prof.
Celina Borges Lemos, em sua linguagem técnico-poética tão singular, oferece-nos
instrução e motivação para concretizar.
O vídeo elucida o caráter do edifício Main Point Karlim - inaugurado em 2011, em Praga - cujas lajes
protendidas e revestimento externo em fibrocimento colorido são apenas parte do
que a sustentável criatividade dos arquitetos pode produzir.
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